Faz um ano e três meses que vim aqui ao meu espaço cibernético preferido para escrever, e apercebi-me que as fotografias que costumo meter para acompanhar e corroborar o que digo estavam inacessíveis. Queixei-me aos técnicos da minha loja de informática e eles tentaram resolver o assunto por três vezes, sem o conseguirem. Então desisti.
À coisa de dois ou três dias abordei instintivamente o blog e qual a minha surpresa ao ver as fotografias nos respectivos artigos. Óptimo. Já não era sem tempo, porque é aqui onde me sinto mais à vontade para abordar as minhas temáticas preferidas (sejam elas quais forem). Continuo é a não perceber porque é que foram abusivamente subliminadas, mas neste mundo virtual da informática tudo é possível, e não há nada que possamos fazer para alterar o que quer que seja.
Durante estes quinze meses muita coisa se passou. Comecei a trabalhar a música com o Sérgio, que sentia necessidade de sair de casa para descontrair das suas eternas traduções de desenhos animados e filmes, e devido à crónica falta de trabalho, preenchia (e continuo a preencher) os espaços vazios com a leitura dos meus livros e autores preferidos de ficção científica, para aguentar numa boa no meu local de trabalho e não me aborrecer por estar parado. Aliás, um mestre-artesão só está parado se quiser, mas devido à conjunctura social actual não compensa ser criativo ou produtivo, porque o que fizer como peças de arte ninguém vai comprar. No entanto continuo a fazê-lo, por desporto. Tinha comprado, em duas feiras do livro, uma quinzena de exemplares que pensei nunca vir a ter tempo de chegar a ler, mas a verdade é que já li metade; na realidade (a não ser na cadeia) nunca li tanto na minha vida - e adoro isso, embora os meus olhos não estejam de acordo comigo. Estão desgastados e cansados, mas têm de ir aguentando.
Durante um ano, aos domingos a partir das três da tarde, eu e o Sérgio aplicamo-nos a pôr em prática algumas das minhas composições poéticas em música. Ao princípio, para mim, era tudo uma grande confusão: para o Sérgio era uma festa. Eu tinha de cantar (coisa que nunca fiz e para a qual não tenho grande jeito) e de tocar todos os instrumentos. A ideia era ir compondo passo a passo, trabalho moroso, mas a única maneira de construir as músicas de forma coerente. E claro, cada música demorava meses a ser montada, mas onde estava a pressa? Não faziamos isso para vender e mostrar ao mundo que somos habilidosos, mas pura e simplesmente para passar o tempo a curtir aquilo que mais gostamos: música.
Criamos umas tantas, e no Natal de 2012 consegui finalmente comprar um gravador tecnicamente acessível à minha capacidade de lidar com esse tipo de tecnologia, para me ir entretendo durante a semana, e o Sérgio começou a receber cada vez mais trabalho e deixou de aparecer. Agora sou só eu, embora ainda conte com ele... Mais tarde, num próximo futuro.
No Verão do ano passado, o Beto (o filho do Betão) mudou-se temporáriamente para a Quinta da Relva e começou a gravitar na área: num dia em que ele ia a passar em frente à minha porta chamei por ele, e blá-blá, música para trás, música para a frente, bateria (ele toca bateria) e tem uma, mas não a pode tocar: sempre que o faz os vizinhos queixam-se, e chegam mesmo a chamar a bófia, facto que o desmoraliza e desmotiva de tocar.
Fiquei a pensar no assunto e dias depois mandei-lhe a boca. "Já que não podes tocar na casa dos outros, podes tocar aqui na minha", e assim eu tinha acesso a um musico extra para me acompanhar. No entanto, não via da parte dele grande motivação e perguntei-lhe se não a queria vender. E não é que vendeu mesmo! Quase dada - 100 euros.
Uma bateria é algo que ocupa muito espaço (coisa que já não tenho em casa) e pensei em instalá-la na garagem. Ele entrou numa de ajudar e desmontamo-a para a restaurar. Lixei, pintei, e enquanto o processo ia decorrendo ele aparecia à noite, para conviver um bocado comigo enquanto esperava que a namorada saisse do trabalho na Lusomassa. Entretanto eu ia comentando que o ambiente não era o mais apropriado para aquele tipo de instrumento, com as paredes nuas de cimento a toda a volta; aí, ele disse que o Nandinho da Quinta da Relva tinha um rolo de corticite que não queria, e estava até quase numa de o deitar fora porque encorrilhava toda e não assentava bem. Se falasse com ele talvez ele ma vendesse.
Estavamos no mês de Agosto, de férias, e fui no dia seguinte falar com ele. Concordou imediatamente, por quarenta euros era minha, e foi buscar logo um carrinho de carga, com uma roda completamente torta: carregou o rolo nela e arrastou-o à força até minha casa. Até dava dó olhar para ele, e para o esforço que estava a fazer com o carrinho e a carga: quando chegamos à minha porta suava em bica, mas isso parecia não o incomodar.
Nos dias seguintes comecei a brocar as paredes e o tecto a espaços regulares, para colocar depois tachas largas de cobre para segurar as placas de cortiça, e sai cola e muito trabalho. Muito, tanto que até desaparecia debaixo das placas, e o dinheiro que devia servir para ir a qualquer lado desopilar, voou. Mas no fim fiquei com um estúdio B, de batida, e levei lá para baixo tudo o que estivesse relacionado com isso: a minha bateria de djembés (seis) e todo o tipo de percussões (mas não todas - não cabiam mais).
O Sérgio entretanto apareceu e disse que a bateria estava desafinada: o Beto olhou de lado para ele e nunca mais apareceu. Orgulhoso e independente como é, não estava para aturar dois kotas com ideias demasiado bem definidas para o gosto dele: e assim, mais uma vez, lá tive de sentar o cu num banco que comprei na feira de Espinho, e tocar para a frente. O vizinho do lado é que não apreciou nada a minha nova aquisição.