segunda-feira, 23 de agosto de 2010

A terra dos caretas

Vivo numa terra onde se passou a fazer o carnaval de hà uns anos a esta parte, e sempre me questionei porquê. Porque é que ninguém teve a mesma ideia nas aldeias e vilas das redondezas? A resposta é simples: a minha terra está cheia de caretas (não generalizando, claro - não quero insultar os inocentes).
Dessa forma práticamente não precisam de máscara para fazer a festa.
Definir careta: um careta é um indivíduo da classe média ou alta, geralmente com uma escolaridade média ou suficiente, filho dos papás, sempre com as costas quentes e o prato cheio na mesa (quer o mereça ou não). É convencido e arrogante, interesseiro e estúpido, e quando faz asneiras o pai fala com a vitíma e paga o prejuízo, obrigando-a a calar o bico (a menos que queira ter problemas inesperados no futuro). Isto é quando o careta é ainda jovem e está sobre a alçada dos pais.
Quando o careta passa à idade adulta os pais arranjam-lhe um tacho na administração pública e candidata-se no partido político mais promissor (neste caso o PSD), ou na Academia de Música, no Museu da terra, na junta de freguesia, nas escolas públicas ou faculdades, no correio ou no teatro, no futebol, na organização do carnaval ou das festas anuais, e a vida é bela.
A arrogância e prepotência crescem com o estatuto do cargo e a careta também. Já só conhecem quem lhes apetece (os da cor deles) e quando raramente nos cruzamos na rua fazem de conta que não vêm ninguém. Pode parecer ridículo, mas é a pura verdade.
Tudo o que comentei até aqui vi com os meus próprios olhos acontecer.
Com a idade o careta incha como um sapo e pensa que é dono da freguesia. Está pronto a dar ordens ao povo e quer ser respeitado como um senhor. Apesar de ser um parolo que nada faz pelos outros, acha-se com direito a ser respeitado por mérito próprio: o mérito da sua posição social. Isso vale o quê? A sua posição social.
Hoje em dia só os vejo fazerem asneiras e construirem veleidades quase inúteis para a sociedade: cortaram as árvores do arraial e construiram um fontanário com repuxos para seu bel-prazer, cortaram os salgueiros pela copa na entrada da Quinta de D. António num acto absolutamente injustificado e infeliz para quem gostaria de se sentar naquele muro a olhar para as ruínas da fábrica de papel, e mais recentemente, aproveitaram as tempestades de Inverno para desbastarem as árvores da Quinta de D. António de maneira abusiva e absolutamente injustificável (para ganharem algum com a venda da madeira): e lá se foi a sombra no quente Verão.
Estou revoltado com estes políticos de meia leca, actuais e do passado recente, que só fazem merda. Prometem, prometeram passeios confortáveis e estradas direitas em toda a freguesia: no Serrado vê-se qualquer coisa, quase um ano depois. E as estradas decentes, à CEE? Quando andamos nelas parece que navegamos no mar. E a horrorosa passagem de nível de Riomaior? Quando lá passamos de carro, a suspensão quase se escangalha. Será que ninguém tem consciência da ineficácia destes dirigentes políticos? Será que andam pelo ar e não vêm esses problemas que afectam toda gente? Afinal qual é o papel deles?  Mamar e dormir, como bébés rechonchudos? Ou velhos crápulas incompetentes?
Não quero saber da poliítica para nada. Quero é o bem estar da população, estupidamente massacrada ao longo de gerações, calada e assumidamente conformada.
A mim ninguém me cala, e se não trabalharem para o bem estar do povo, os políticos actuais no poder vão ter que engolir muitos sapos venenosos. O pedestral em que pensam estar essentes é de barro, e a careta que têm, juntamente com o fato e gravata de luxo que vestem, não os salvará da subserviência ácida das minhas observações.
Esta treta toda surgiu devido a um acontecimento na Academia de Música.
Um destes dias estava eu tranquilamente em casa quando recebi um e-mail a dizer que ia haver na Academia de Música um concerto para flauta e orquestra, sexta-feira às nove da noite. Como costumo passear pela freguesia depois do jantar e a hora era propícia, decidi passar por lá e ver o ambiente. Em princípio não demoraria mais de um quarto de hora porque não sou apreciador de música clássica, mas quando lá cheguei e no fim de uma música vi que o maestro Vitorino de Almeida estava a assistir e a dar uma palestra extra, fui ficando e comecei a fotografar a cena. Pelos vistos fazia 70 anos nesse dia e tinha decidido (provavelmente com a colaboração do Fernando Augusto) comemorar o seu aniversário longe da confusão da capital com um concerto da sua autoria.

Francamente estava a gostar da música e tentava registar o acontecimento com mais fotografias, deslocando-me ligeiramente para o centro do anfiteatro para um melhor enquadramento, quando um indivíduo nesse ângulo se debruçou sobre mim e disse qualquer coisa: infelizmente para ele, quando falou, a orquestra atacou a fundo e não ouvi nada do que disse; abanei a cabeça afirmativamente e retirei-me para o meu canto. Passado um bocado voltei ao ataque no mesmo sítio (ao lado dele) e sai flash: mas quando olhava para as imagens que ia fazendo via que não estavam a sair nada bem e insistia. É então que o indivíduo indignado se debruça novamente sobre mim (era maior do que eu) e começa a ralhar comigo. Diz que não devia de fazer o que estava a fazer e se via alguém a fazer o mesmo. Óbviamente que ninguém tinha uma máquina como a minha, só telemóveis, e também é mais do que evidente que podia ir lá para baixo, para perto do palco, sentar-me e fazer as fotos que me apetecesse; mas como depois de jantar não gosto de estar sentado não fui. E se fosse, e começasse a flashar a seco tão perto do palco, aí sim, poderia incomodar os músico, coisa que nunca faria. Portanto, dentro da perspectiva do pataqueiro só devia tirar fotografias quando o maestro falasse e não durante o espectáculo. Já a ficar fodido com o careta convencido digo-lhe que não me pareço com ninguém e ninguém me dá ordens, quando outro, ao lado dele (que conheço desde puto e sempre desprezei) se vira para mim e diz que se não fosse conhecido ia lá para fora.
Claro que na hora me questionei que espécie de parolo era aquele com ideias tão erradas sobre óptica. A uma distância superior a vinte metros de distância o efeito do flash é equivalente a acender um isqueiro, não incomoda ninguém, e a prova estava na qualidade das imagens - desfocadas ou tremidas pelo movimento dos músicos, ao tocarem vigorosamente nos seus instrumentos.
"Só fala quem não tem razão ou por ignorância na ocasião". Ou por ser um grande caretão.
Farto de aturar semelhantes malaicos abano a cabeça para a minha mulher e saio da sala. Se a música não estivesse tão alta perguntava ao "labsolu" quem é que iria tomar essa iniciativa: o primeiro "ladislau" que me pusesse as patas em cima poderia mais tarde dizer se o material da minha máquina era feito de plástico ou metal, quando a partisse na sua real cabeça.

Quem é que estes lindinhos pensam que são?