terça-feira, 10 de agosto de 2010

O arquivista-mor na fortaleza do conhecimento

As dádivas do vizinho obrigaram-me a reestruturar o arquivo da minha biblioteca caseira, e inicialmente pensei que não iria ter espaço para tantos livros. Felizmente a minha estante é exageradamente larga (no passado tinha criticado a minha mãe pelo facto - agora teria de lhe agradecer) e depois de ter feito uma limpeza geral a todos, comecei a agrupá-los por calibre. Desta forma:

Já que estava com a mão na massa e gosto de caprichar, comecei a construir uma autêntica muralha de livros. Não contava era com tantos, e tão variados formatos, alguns estranhos à estética dos tempos actuais. Também nunca tinha visto uma tal variedade de qualidades de papel, alguns muito bons (estou a falar de papel com cem anos ou mais).
Durante dois ou três dias fui-os amontoando e criando paredes: a muralha externa com os mais grossos (enciclopédias de 1880 e mais recentes, volumosos e grandes) seguidos dos mais pequenos (médios) em segunda fila, e para o centro os mais pequenos.


Finalmente a fortaleza estava de pé, em delicado equilíbrio (a minha casa abana muito com a passagem de camiões pesados, e receava que a trepidação podesse deitar abaixo a construção - mas resistiu) e pude tirar umas fotografias elucidativas do que estou a escrever antes de os mandar para a estante.
Não sei que sorte é a minha: só sei que me surgem sempre trabalhos tão pesados e morosos (embora gratuítos) que passo meses a executá-los debaixo duma pressão irreprimível e irrecusável. Também posso garantir que não vou comprar mais nenhum livro na vida, a não ser de ficção científica da colecção Argonauta. Dos meus autores favoritos (se os encontrar - nas calmas).
Os livros são o cerne do conhecimento humano, e nem os computadores os conseguem suplantar (ainda). É mais saudável olhar para uma folha de papel do que para o visor luminoso duma máquina.
Voyons le bout du boulot:


Ler é um privilégio extraordinário desperdiçado pelo mundo Ocidental. Quando estive a viver durante um ano no Congo-Brazzaville pude ver e comparar as diferenças entre ter e não ter cultura livresca. Lá, qualquer tipo de livro ou revista era devorado até à exaustão por quem pudesse ter acesso a ele: isto antes de ser devorado pelo bolôr e pelas bactérias, ou por uma boa cagada ao ar livre.